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Eu até pensei em escrever um artigo com uma reflexão de impacto, ou quem sabe alguma grande descoberta sobre a humanidade conquistada por meio de minhas observações feitas em mais de um ano que estou confinado em quase total isolamento social devido a pandemia de COVID 19. Porém, mais uma vez, confesso que nenhuma novidade me foi revelada.
Primeiramente, por ser impossível observar qualquer humanidade diferente da minha própria humanidade. Não existe nada no outro que não esteja ou também seja em mim.
Confesso que quase cai na armadilha do tal “Novo Normal”. Essa nova fase anunciada para nossa civilização, que segundo ilustres pensadores seria alcançada através das dificuldades impostas pelas restrições que a pandemia trouxe a nosso cotidiano. Até escrevi um artigo sobre esse tema , voltado aos líderes, lá no começo da pandemia em março de 2020. “O Líder Integral e a ilusão do “Novo Normal”
Ao observar minha própria humanidade, em meio a tudo o que está acontecendo, só encontrei o que já é conhecido e estudado há milhares de anos. Em meu mundo interior – pensamentos, emoções, crenças etc – constatei que tenho que transpor grandes obstáculos para minha evolução consciente, e que esses obstáculos sempre estão presentes nessa jornada de evolução, com ou sem pandemia. Esses obstáculos já são trabalhados por séculos, em várias tradições de ensinamento para elevação consciente. Destaco o trabalho do mestre George Ivanovich Gurdjieff, que separou esses grandes obstáculos em 3: o Esquecimento de Si Mesmo , a Identificação, e a Consideração Interna. Nas próximas linhas, não pretendo fazer uma explanação teórica sobre esses obstáculos, mas sim, um relato de como eles se apresentam para mim em minha jornada.
Gurdjieff dizia. ” … o homem se esquece de si mesmo sem cessar. Sua impotência em lembrar-se de si é um dos traços mais característicos de seu ser e a verdadeira causa de todo seu comportamento…”
Como é que eu fui me esquecer de alguém tão importante? Triste realidade. Mais Triste ainda é saber que o obstáculo ainda está presente, e precisa ser transposto a cada instante.
Em minha própria humanidade existe um sono profundo, que me leva a pensar, sentir e fazer coisas que não fazem parte da minha essência. Meus pensamentos são processados em uma máquina programada para interpretar a realidade com padrões fixos, coisas que aprendi com alguém, ou vivi em situações passadas.
Meu coração já não reconhece novos sentimentos , novas emoções, tudo o que ele sabe fazer é utilizar um dicionário onde encontra nomes para me dizer o que chega até ele.
Meu corpo, esse até busca me avisar sobre esse esquecimento, mas quase sempre eu não dou a mínima para o que ele me diz. Não me atento aos ombros tensos, ao respirar curto e ofegante, e continuo me enganando, respondendo a mim mesmo, que estou bem. Não ligo para o sorriso que me sai sem motivo algum, ou para algum gesto automático que me aparece do nada quando estou conversando com alguém. Não observo o conflito de meu corpo com o que penso ou sinto.
Esquecer-se de Si é não trabalhar em plenitude com a minha humanidade.
Gurdjieff dizia. “…uma das características fundamentais da atitude do homem (humano) para consigo mesmo e para com os que o rodeiam é sua constante identificação com tudo o que prende sua atenção, seus pensamentos, seus desejos ou imaginação…”
O canto da sereia sempre está lá para me distrair. São desejos e não o verdadeiro querer, pois desejos só me proporcionam prazeres momentâneos. Já o querer é mais profundo, e nasce do meu verdadeiro eu. O querer está no coração, e não é fruto de imaginação, mas sim uma perfeita leitura daquilo que minha realidade precisa.
Preciso sempre me lembrar que não sou meus pensamentos , minha imaginação ou minhas percepções do mundo. Só me lembro disso quando me vejo de verdade, quando me vejo em cada momento, sem nenhuma máscara, sem nenhum filtro ou distração.
Gurdjieff dizia.” O melhor meio de ser feliz nessa vida é poder considerar externamente sempre – internamente nunca.”
Preciso compreender, que o que carrego dentro de mim , tudo que sei , vivi ou senti, não representa a realidade plena do mundo externo. Minha consciência precisa ser desenvolvida para separar o que é , e o que não é fruto de meu intelecto. Preciso reconhecer a importância dos conhecimentos que aprendi, ao mesmo tempo em que devo sempre duvidar de sua verdade eterna. O universo está sempre mostrando novidades destruidoras de verdades. Preciso também aceitar que sempre existe o caos em meio a ordem, e por vezes mais caos que ordem.
Meu conhecimento não foi, não é, e nunca será o bastante na maior parte dos momentos e, só estando presente, serei capaz de aprender com o que está acontecendo. Não posso me dar o luxo de ficar preso em alguma dificuldade: algo que assisti na TV, nas mídias sociais, algo que tenha acontecido com alguém que conheço, ou comigo mesmo. Tocar em frente é saber que cada momento é diferente, e requer atenção plena , não para interpretar o que está ocorrendo, e sim para saber o que preciso fazer. Aprendi nesses dias que em alguns momentos, o melhor a fazer é simplesmente aprender, e talvez esse seja o mais difícil fazer.
Esse é o meu aprendizado nesses 12 meses. Compartilhar meu aprendizado faz parte de minha missão, e a consciência é algo que partilhamos sempre entre nós aqui nesse Blog.
Como é sua experiência com esses 3 obstáculos ? Se quiser compartilhar aqui…escreva nos comentários.
André Ferreira
é Consultor , Coach certificado pela International Coaching Community, Administrador ,especialista em CNV (Comunicação Não Violenta) e Instrutor em Mindfulness.
https://www.greenintegral.com.br
andre.ferreira@greendh.com.br